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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

REPULSA AO SEXO



Repulsa ao sexo
18, de setembro de 2010



Entre os três candidatos à Presidência mais bem colocados nas
pesquisas, não sabemos a verdadeira posição de Dilma e de Serra. Declaram-se contrários para não mexer num vespeiro que pode lhes custar votos. Marina, evangélica, talvez diga a verdade. Sua posição é tão conservadora nesse aspecto quanto em relação às pesquisas com transgênicos ou células-tronco.

Mas o debate sobre a descriminalização do aborto não pode ser pautado pela corrida eleitoral. Algumas considerações desinteressadas são necessárias, ainda que dolorosas. A começar pelo óbvio: não se trata de ser a favor do aborto. Ninguém é. O aborto é sempre a última saída para uma gravidez indesejada. Não é política de controle de natalidade. Não é
curtição de adolescentes irresponsáveis, embora algumas vezes possa resultar disso. É uma escolha dramática para a mulher
que engravida e se vê sem condições, psíquicas ou materiais, de assumir a maternidade. Se nenhuma mulher passa impune por uma decisão dessas, a culpa e a dor que ela sente com certeza são agravadas pela criminalização do procedimento.
O tom acusador dos que se opõem à legalização impede que a sociedade brasileira crie alternativas éticas para que os casais possam ponderar melhor antes, e conviver depois, da decisão de interromper uma gestação indesejada ou impossível de ser levada a termo. Além da perda à qual mulher nenhuma é indiferente, além do luto inevitável, as jovens grávidas que pensam em abortar são levadas a arcar com a pesada acusação de assassinato.
O drama da gravidez indesejada é agravado pela ilegalidade, a maldade dos moralistas e a incompreensão geral. Ora, as razões que as levam a cogitar, ou praticar, um aborto, raramente são levianas. São situações de abandono por parte de um namorado, marido ou amante, que às vezes desaparecem sem nem saber que a moça engravidou. Situações de pobreza e falta de perspectivas para constituir uma família ou aumentar ainda mais a prole já numerosa. O debate envolve políticas de saúde pública para as
classes pobres.
Da classe média para cima, as moças pagam caro para abortar em clínicas particulares, sem que seu drama seja discutido pelo padre e o juiz nas páginas dos jornais. O ponto, então, não é ser a favor do aborto. É ser contra sua
criminalização. Por pressões da CNBB, o ministro Paulo Vannuchi precisou excluir o direito ao aborto do recente Plano Nacional de Direitos Humanos. Mas mesmo entre católicos não há pleno consenso. O orajoso grupo das "Católicas pelo direito de decidir" reflete e discute a sério as questões éticas que o aborto envolve.

O argumento da Igreja é a defesa intransigente da vida humana. Pois bem: ninguém nega que o feto, desde a concepção, seja uma forma de vida. Mas a partir de quantos meses passa a ser considerado uma vida humana? Se não existe um critério científico decisivo, sugiro que examinemos as práticas correntes nas sociedades modernas. Afinal, o conceito de humano mudou muitas vezes ao longo da história. Data de 1537 a bula papal que declarava que os índios do Novo Continente eram humanos, não bestas; o debate, que versava sobre o direito a escravizar-se índios e negros, estendeu-se até
o século 17. A modernidade ampliou enormemente os direitos da vida humana, ao declarar que todos devem ter as mesmas chances e os mesmos direitos de pertencer à comunidade desigual, mas universal, dos homens.

No entanto, as práticas que confirmam o direito a ser reconhecido como humano nunca incluíram o feto. Sua humanidade não tem sido contemplada por nenhum dos rituais simbólicos que identificam a vida biológica à espécie. Vejamos: os fetos perdidos por abortos espontâneos não são batizados. A Igreja não exige isso. Também não são enterrados. Sua curta existência não é imortalizada numa sepultura - modo como quase todas as culturas humanas atestam a
passagem de seus semelhantes pelo reino desse mundo. Os fetos não são incluídos em nenhum dos rituais, religiosos ou leigos, que registram a existência de mais uma vida humana entre os vivos.

A ambiguidade da Igreja que se diz defensora da vida se revela na condenação ao uso da camisinha mesmo diante do risco de contágio pelo HIV, que ainda mata milhões de pessoas no mundo. A África, último continente de maioria católica, paupérrimo (et pour cause...), tem 60% de sua população infectada pelo HIV. O que diz o papa? Que não façam sexo. A favor da vida e contra o sexo - pena de morte para os pecadores contaminados.

Ou talvez esta não seja uma condenação ao sexo: só à recente liberdade sexual das mulheres. Enquanto a dupla moral favoreceu a libertinagem dos bons cavalheiros cristãos, tudo bem. Mas a liberdade sexual das mulheres, pior, das mães - este é o ponto! - é inadmissível. Em mais de um debate público escutei o argumento de conservadores linha-dura, de que a mulher que faz sexo sem planejar filhos tem que aguentar as consequências. Eis a face cruel da criminalização do aborto: trata-se de fazer, do filho, o castigo da mãe pecadora. Cai a máscara que escondia a repulsa ao sexo: não se está brigando em defesa da vida, ou da criança (que, em caso de fetos com malformações graves, não chegarão a viver poucas semanas).
A obrigação de levar a termo a gravidez indesejada não é mais que um modo de castigar a mulher que desnaturalizou o sexo, ao separar seu prazer sexual da missão de procriar.


Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Só de Sacanagem


Só de Sacanagem

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo
duramente para educar os meninos mais pobres que eu,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus
pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e
eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança
vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o
aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus
brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao
conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e
dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva
o lápis do coleguinha",
" Esse apontador não é seu, minha filhinha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido
que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca
tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica
ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao
culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo
o mundo rouba" e eu vou dizer: Não importa, será esse
o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o
escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde
o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente
quiser, vai dá para mudar o final!


Composição: Elisa Lucinda

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

I Seminário Regional sobre AIDS e Políticas Públicas Infanto - juvenis

I Seminário Regional sobre AIDS e Políticas Públicas Infanto - juvenis

Salvador – Bahia / Agosto - 2010





O I Seminário Regional sobre AIDS e Políticas Públicas Infanto - juvenis foi emocionante com o objetivo de reunir atores de diversos segmentos da sociedade para reflexão e escuta mútua a respeito da construção, implementação e execução das políticas públicas que se dirigem ao público infanto-juvenil no nordeste, e com uma programação super interessante, o seminário veio discutir e dialoga o Estatuto da Criança e do Adolescente – Família, Sociedade e Estado: elos e competências; Política Nacional das Casas de Apoio para a população infanto-juvenil; Direito à Saúde e Políticas Públicas voltadas para a Infância e Juventude vivendo com HIV/Aids. A AIDS é uma doença contagiosa causada por um vírus chamado – Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV. Também chamado vírus da AIDS, ele penetra no corpo humano por vias bem definidas e ataca as células importantes que fazem parte do sistema de defesa do nosso organismo. Enfraquecido o organismo, a pessoa fica sujeita à doenças graves, as chamadas doenças oportunistas que têm esse nome exatamente porque se aproveitam desse enfraquecimento. Mas, nem todas as pessoas infectadas com o vírus desenvolvem a doença. Mesmo assim, podem transmiti-lo para outras. A pessoa portadora do vírus é também conhecida por soropositivo.


Entretanto a prevenção é fundamental para o controle da epidemia da Aids que considera que o uso do preservativo é um meio eficaz de proteção. Entretanto compreende que essa prática de proteção está inserida na complexidade das relações sexuais, das sexualidades dentro de um contexto social, cultural no qual a vivência das diferentes práticas está permeada de valores e percepções distintas de mundo. Portanto,o grade desafio porta-se às questões relacionadas à qualidade de vida dos jovens: emprego, pobreza, violência e os contextos de vulnerabilidade. Assim a Aids e a epidemia do século XXI.




Porém como toda importância do seminário os diálogos feitos ao longo dos três dias, foram de extrema importância, para identificar que a juventude precisa ser ouvida e que tantos os jovens vivendo com HIV/Aids, convivendo com HIV/Aids entre outros lutam pelo avanço de políticas públicas efetivas que possam proporcionar a esses jovens uma vida com dignidade, assim o encontro se fez. Mas pra mim o seminário proporciono momentos emocionante, das quais estarão sempres presentes na minha vida, uma delas foi fazer amigos independente da soropositividade e se sentir protegida, se sentir parte deles em uma troca de amor que não exigir nada em troca, assim foi as amizades feitas é nas amizades se aprende errando que crescer não significa fazer aniversário, que o silencio é a melhor resposta, quando se ouve uma bobagem e quando penso saber tudo, descubro que os verdadeiros amigos sempre ficam e amar não significa se dar por inteiro, pois um só dia pode ser mais importante que muitos anos. Assim existem pessoas nas nossas vidas que nos vazem felizes pela simples casualidade de terem cruzado o nosso caminho, algumas percorrem o caminho a nosso lado, vendo muitas luas passar, mas outras apenas vemos entre um passo e outro. E o destino apresentamos a outros amigos, os quais não sabiam os que iriam cruzar-se no nosso caminho, muitos deles chamamos-lhes amigos da alma, do coração, são sinceros, são verdadeiros, sabem quando não estamos bem, sabem o que nos faz feliz. Mas o que mim deixa mais feliz, é que continuaremos junto, alimentando a nossa amizade com alegria e recordações de momentos maravilhosos de quando nossos caminhos se cruzaram.

Hoje entendo, porque cada pessoa que passa na nossa vida é única independente de classe, cor, raça, sexo, etnia, soropositividade, opção sexual e etc... estas pessoas sempre deixa um pouco de si e leva um pouco de nós. Porém haverá os que levam muito, mas não haverá os que não nos deixam nada. E esta é a maior responsabilidade da nossa vida e a prova evidente de que as almas não se encontram por casualidade."





Juliana Silva